Pesquise sua procura

Arquivo | 14 anos de postagens

Mostrando postagens com marcador Saudade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Saudade. Mostrar todas as postagens

domingo, 6 de maio de 2018

Ética Cristã e Doação de Órgãos



Por Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO

Na prática, ética é a conduta ideal e reta esperada de cada indivíduo. No campo teórico é o estudo dos deveres do indivíduo, isolado ou em grupo, objetivando a exata conceituação do que é certo e do que é errado. A Ética Cristã  deve ser fundamentada  no conhecimento de Deus como revelado nos ensinos de Cristo. Para os crentes em Jesus, significa o comportamento, o porte, a compostura tendo como base a Bíblia Sagrada, considerando-a como regra de fé e prática.

Doar significa salvar vidas. Então a disposição em conhecer o tema doação de órgãos em profundidade é importante. Embora o assunto seja complexo, também é cativante. O que faz com que o cristão conhecedor da matéria, via perspectiva bíblica, consequentemente, seja um componente útil, capaz de fazer a diferença positiva, a toda hora que for necessário falar sobre este tema.

I – DOAÇÃO DE ÓRGÃOS: CONCEITO GERAL

No Brasil e em praticamente todas as partes do mundo civilizado, a doação de órgãos é gratuita e de livre decisão do doador ou familiar responsável em caso de doação pós-morte. Em circunstância alguma esse processo pode envolver negociação comercial ou interferência econômica. Vender órgão humano é crime.

A lei brasileira que definiu a doação de órgãos diz que, se a pessoa não declarar em documento sua decisão de não ser doador, seus órgãos podem ser retirados para salvar vidas de pessoas doentes. Mas parece que causou mais prejuízo do que vantagem em termos de motivação para a doação. Cerca de 70% das pessoas aprova a doação de órgãos, mas parece que por sentimentalismo, pois o número de não doadores tem aumentado.

1. Definição de transplante.

A Constituição Federal de 1988 determina de forma precisa o direito à vida. E para acentuar esse direito, a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, fundamenta a legalidade sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para objetivos de transplante e tratamento, desde que seja de livre vontade e autorizada pelo doador ou seu familiar responsável. A doação de órgãos é liberada e grátis. É uma decisão que deve elaborada de maneira clara entre o doador e os familiares. O médico e a equipe hospitalar podem colaborar nesse desenvolvimento do assunto, com orientações seguras dos procedimentos, considerando o bem de todos e da vida.

O "transplante", ou "transplantação" é o procedimento cirúrgico que consiste na retirada do órgão ou tecido de um indivíduo, ou medula óssea, juntamente com vasos que o irrigam, com o objetivo de colocar em outro ser humano para compensar ou substituir uma função perdida. Pode ser realizado entre pessoas vivas ou ser usado o organismo de alguém recém-falecido. São reutilizados órgãos como coração, pulmão, fígado, rim etc. Na maioria das vezes, o órgão tem origem em um cadáver.

São transplantados órgãos como o coração, o fígado, o pâncreas, os rins, os pulmões, os tecidos e outros. O caso de transplante de pele, é realizado com a finalidade recuperar áreas atingidas por queimaduras.

Além disso, há o transplante de células-tronco que são encontradas, principalmente, na medula óssea, placenta e cordão umbilical. Ò transplante de células-tronco adultas pode ser realizado entre pessoas vivas e, portanto, não apresenta problemas éticos. Como a Bíblia ensina que a vida tem início na fecundação (Jeremias 1.5), a ética cristã desaprova o uso das células-tronco embrionárias, pois este procedimento só é possível matando o embrião.

Atualmente, para quem é cristão ou não, o transplante de rim  é considerado um dos mais comuns. Também é considerado comum o transplante da da transfusão de sangue. Não há polemica quanto à intervenção da ciência médica no doente renal crônico, pois está largamente constatado que assim o paciente recebe oportunidade para continuar a viver, tem sua vida normalizada.

2. O conceito de doação na Bíblia.

A ideia de "doar" está exposta amplamente nas Escrituras Sagradas, diretamente ligada ao mandamento de "amar o próximo".

Os pais que estão na terra costumam dar o melhor e de maneira rápida o que seus filhos necessitam, mas o Pai celeste, que ultrapassa infinitamente os pais da nossa carne, tanto em poder quanto em bondade e sabedoria, nos dá o Espírito Santo aos que lhe pedirem (Lucas 11.9-13). Jesus recebeu todos os talentos do Espírito sem medida, e assim era apto para realizar as obras do seu ministério, que consistia em socorrer os aflitos, apregoar a liberdade aos cativos, dar vista aos cegos (Lucas 4.19; João 3.34). Ao cristão não basta saber orar bem e orar constantemente, é necessário praticar o bem, sendo parte ativa daquilo que diligentemente ora. A pessoa que verdadeiramente tem o Espírito em sua vida, ama o próximo da mesma maneira que Cristo amou; sabe que o socorro aos enfermos é a marca registrada do cristão autêntico, que "mais bem-aventurada coisa é dar do que receber"  (João 15.10, 13; Atos 20.35; 1 João 3.16).

O Criador, ao formar o corpo humano do pó da terra e soprar em suas narinas o fôlego celestial, fez com que a origem da vida humana fosse um evento nobre. Portanto, doador e receptor, que expressam a imagem e a semelhança de Deus, em suas atitudes de receber e doar órgãos, perpetuam a nobreza do ato divino da criação (Gênesis 1.26; 2.7; Provérbios 15.32).

A excelência da doação repousa na disposição de fazer o bem ao próximo, com base na prática da vontade do Senhor. Doar ao necessitado é uma forma de colocar a fé em prática.  O apóstolo Tiago que a fé sem obras é morta (2.14-17). Por sua vez, João escreveu que aquele que afirma amar a Deus mão não ama ao seu irmão, está faltando com a verdade (1 João 4.20).

Jesus Cristo prometeu a todos que não se negam ao gesto de doar proceder generosamente com bênção de reciprocidade: ""dai, e ser-vos-á dado" (Lucas 6.38 a).

3. A doação de si mesmo: pertencemos a Deus.

No Brasil. órgãos, tecidos e partes do corpo humano podem ser doados para beneficiar a saúde de outra pessoa, desde que não cause prejuízo ao organismo do doador.  O cristão autêntico deve observar esta situação levando em conta a sua consciência, que necessita estar ajustada aos parâmetros bíblicos e assim atuar segundo a orientação da Palavra de Deus.

Como cristãos, precisamos tratar deste assunto possuindo o mais alto interesse, evitar a posição do mero sentimentalismo sujeito a mudanças de ponto de vista. Pois o sentimento superficial não é fé, não é amor, não está em conformidade com o reflexo da imagem de Deus no ser humano; o amor deve ser demonstrado por obras, não apenas de palavras (1 João 3.17,18).

Você teria coragem de doar um de seus rins para salvar uma pessoa? Ter doado ou recebido algum tipo de órgão do corpo é uma experiência dramática, experimentar o episódio implica aos envolvidos na situação em passar por momentos tensos e de dúvidas.

II - EXEMPLOS DE DOAÇÃO

A doação de órgão e de tecidos humanos é a aprovação manifestada por parte de uma pessoa, permitindo que seus órgãos e tecidos sejam retirados, para serem aproveitados por pessoas portadoras de doenças crônicas, com o objetivo de aumentar-lhes sua sobrevida. O procedimento cirúrgico consiste na remoção do elemento orgânico enfermo para ser substituído por outro saudável.
Doação de órgãos após a morte 
O doador deve decidir livremente sobre a sua vontade de realizar a doação e para isso deve ser bem informado. Para que esse direito seja exercido mesmo após a morte, cabe aos familiares saberem o desejo do doador e cabe ao potencial doador manifestar e expor essa vontade ainda em vida. 
Doação de órgãos em vida
Para doar órgãos e tecidos em vida é preciso que o doador tenha compatibilidade com o paciente que receberá a doação, boas condições de saúde e tenha parentesco de até quarto grau familiar ou ser casado com a pessoa. Se não existir vínculos, a doação só poderá ser realizada mediante ordem judicial. A doação de órgãos não pode afetar a saúde do doador e ele precisa estar ciente dos riscos e consequências da cirurgia. O órgão para ser doado precisa ser duplo ou ter capacidade de reconstituir no organismo. 
Não existe implicação ética para a questão do transplante de órgãos, por doação entre pessoas vivas, à luz das Escrituras Sagradas,  caso a consciência de ambos, doador e recebedor, esteja em paz e sem dúvidas (Romanos 14.1-23; 1 Coríntios 8.7-13; 10.23-33).
1. O exemplo dos gálatas.

A igreja da Galácia, atual Turquia, foi fundada por Paulo. Aparentemente, os crentes daquela localidade desejaram doar até o que não podiam, para amenizar ou eliminar de uma vez por todas uma extrema aflição que acometia o apóstolo. Não há nas páginas da Bíblia informação específica sobre qual era este mal e cogita-se que fosse uma enfermidade nos olhos ou na visão.

Ao evangelizar na região da Galácia, Paulo deixou indícios de ter sentido os efeitos da dificuldade em sua carne. E orou a Deus três vezes para livrar-se do mal, o Senhor lhe respondeu: "a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (Gálatas 4.13-15; 2 Coríntios 12.7, 9 a).

O fato incontestável é que era grande o apreço dos crentes gálatas por Paulo, e Paulo destaca que os gálatas não o desprezaram nem o rejeitaram por causa disso. Ele escreveu que os membros daquela igreja viviam o cristianismo através de atos bondosos, se necessário arrancariam os próprios olhos e os doariam no objetivo de fazer acabar seu sofrimento (Gálatas 4.15).

2. O desprendimento de Paulo.

Assim que Paulo tomou ciência do perigo que corria em Jerusalém, foi aconselhado a recuar. Porém, ao invés de voltar atrás, demonstrou estar plenamente decidido a dar continuidade ao seu ministério missionário, não apenas sofrer "mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus" (Atos 21.10-13).

Com uma obstinação positiva, humilde e resoluto, Paulo discursou ao voltar de sua terceira viagem missionária a Jerusalém: "Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus" (Atos 20.24).

Demonstrou notável disposição para suportar dores e sofrer prejuízos em prol do Reino de Deus. Escreveu que doaria seu tempo, corpo, força, interesse, tudo para servir aos irmãos em Cristo (2 Coríntios 12.15).

3. A doação suprema de Cristo.

A Bíblia mostra a suprema doação. A morte vicária do Salvador é o maior exemplo do ato de doar. Jesus Cristo se doou, de corpo e alma, para que não morrêssemos. Para que não fôssemos condenados à morte eterna, doou muito mais que um ou outro órgão para salvar as nossas vidas.  Ele entregou a sua vida por inteiro na cruz do Calvário.

Foi por intermédio do sacrifício de Cristo, e de sua vitória sobre a morte, que fomos resgatados de nossa vã maneira de viver (1Pe 1.18-21). O apóstolo João enfatiza essa doação e no incentiva a fazer igual: "Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos" (1 João 3.16).

Doar órgãos para salvar outras vidas é um sublime ato de amor. Podemos entender que um órgão a ser doado é um “bem” do mais alto valor para a salvação da vida orgânica de um doente.

Ill - DOAR ÓRGÃOS É UM ATO DE AMOR

Muitas pessoas ainda morrem à espera de um órgão para sobreviver. Informações da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostram que 2.333 doentes morreram à espera de um transplante no ano de 2015. Muitas pessoas apesar disso rejeitam a doação por dilemas éticos e por falta de informação.

A doação de órgãos humanos, da mesma maneira que a de tecidos, antes de tudo, deve ser vista como um ato de amor e coragem. Doar é a ação concreta de extremo afeto. É a boa ação que representa literalmente o sentimento de benevolência que sentimos pelo outro. Tal ação dá a conhecer, de maneira irrefutável o verdadeiro bem-querer através do ato de solidariedade. 

1. O princípio da empatia e da solidariedade.

Cristo nos ensinou no Sermão do Monte: "tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós" -  Mateus 7.12.

Se uma mãe tem um filho que padece de problema cardíaco crônico, a quem a medicina aponta  poucas chances de sobrevida, certamente deseja ansiosamente que os médicos encontrem um coração de alguém, que dê oportunidade de sobrevivência para sua criança doente.

A empatia é definida como sentir o que a outra pessoa sente. É a posição de colocar-se no lugar do outro. A pessoa que se coloca no lugar do próximo, se estiver diante de uma situação extrema como doar órgãos, tende a ser doador de órgãos, pois o verdadeiro amor o impulsiona-nos à doação.

Amar a Deus e ao próximo como a si mesmo é a síntese da lei e dos profetas, o resumo da lei de Cristo, que nos ensina não haver maior amor do que doar a sua vida ao próximo (Mateus 22.37-40; João 15.13).

Portanto, identificar irmãos na igreja que estejam em luta contra uma enfermidade séria. precisando de doação de sangue ou de um órgão, dá a cada cristão a oportunidade de socorrer pessoas que estão sofrendo bem perto de nós.

2. O princípio do verdadeiro amor.

A questão humana de doar órgãos está fundamentada no princípio do verdadeiro exercício do amor, quem realmente ama entende o altruísmo do auxílio mútuo, é solidário, e tem raízes no princípio da empatia e da solidariedade, que a Bíblia Sagrada apresenta como princípios cristãos. Portanto, desde que dentro das suas possibilidades, jamais deixa de socorrer alguém que estiver em dificuldade.

Salvar a vida de alguém é, sem dúvida, uma demonstração de elevado sentido espiritual e moral. A ação em nada contraria os preceitos éticos ou bíblicos, exceto no caso de células-tronco embrionárias. A pessoa que declara sua vontade de doar seus órgãos vitais após morrer não deve ter sua vontade desrespeitada.

Não é fácil a uma família tratar desse assunto num momento de fragilidade e luto. Mas, com certeza, a maior barreira ao ato de doar órgãos é a desinformação, que inviabiliza aos familiares agir em tempo adequado. Neste momento de pesar, a consciência do cristão para agir corretamente precisa estar alinhada e sintonizada com a Palavra de Deus.

CONCLUSÃO

A doação de órgãos em vida, ou depois de morto, é um elevado gesto de amor. Ninguém deve ser forçado à prática de tão nobre gesto. Portanto, cabe aos líderes da igreja conscientizar os membros a agirem amorosamente, lembrar da questão humanitária, não deixar esquecer que a transferência de órgãos é um modo de fazer com que a pessoa falecida esteja ainda um pouco mais de tempo entre nós.

Como cristão, cada um de nós, precisa ser capaz de se manifestar tendo como base a Palavra de Deus, pois é apenas nesta condição que o crente é agente que faz a diferença positiva e traz à luz os princípios da Ética Cristã.

E.A.G.

Compilação:
Bíblia de Estudo do Expositor, segunda edição revisada 2015, Jimmy Swaggart, página 2014,  Baton Rouge, EUA (Ministério Jimmy Swaggart)
Lições Bíblicas Adulto. Valores Cristãos - Enfrentando as Questões Morais de Nosso Tempo, Douglas Baptista, lição 7 - Ética Cristã, e Doação de órgãos, 2º trimestre de 2018, Rio de Janeiro (CPAD).
Lições Bíblicas Adulto. Ética Cristã - Confrontando as questões morais. Lição 10: O cristão e a doação de órgãos, Elinaldo Renovato de Lima, 3º trimestre de 2002, Rio de Janeiro (CPAD)

IPOG Blog - Conheça a lei sobre transplantes e doações de órgãos - 21 de agosto de 2017 - https:// blog.ipog.edu.br/ gestao-e-negocios/ transplantes-e-doacoes-de-orgaos/